terça-feira, 1 de junho de 2021

CINCO PILOTOS QUE MERECIAM UM TÍTULO NA F1.

    Fazer uma lista com cinco pilotos que, de uma maneira puramente “achista”, mereciam um título mundial, é, acima de tudo, um exercício de criatividade, porém com um toque bom senso e levantamento de dados para defender os pilotos membros dessa lista. 
    Todos os cinco escolhidos, em algum momento, fizeram por merecer estarem aqui, não seria injusto supor que outros também merecessem, contudo, através dos argumentos que serão explicitados, esse cinco de fato eram perfeitamente capazes de levarem nas pistas o título de pilotos da maior categoria de automobilismo do mundo, a F1. Por várias razões isso obviamente não aconteceu, mas a graça da lista é justamente essa, supor, especular, imaginar. 
    A métrica utilizada vai se basear no número de oportunidades do piloto em buscar o campeonato e também na pontuação da disputa ao título, que reflete o quão perto esse piloto esteve realmente do seu triunfo, que infelizmente não ocorreu. Vale ressaltar, que outros pilotos evidentemente também poderiam estar nessa lista, inclusive pilotos que ficaram fora das primeiras posições, mas aí seria explorar demasiadamente a criatividade e esses cinco são casos bem chamativos no quesito realidade, e por ordem de merecimento vamos a lista propriamente dita. 

 5 - RONNIE PETERSON (1973 e 1978) – Vice campeão póstumo. O sueco voador, Ronnie Peterson estreou na F1 em 1970, porém somente quando foi para a Lotus em 1973 é que o piloto pode mostrar seu talento. Nessa temporada foi companheiro de equipe de Emerson Fittipaldi. Venceu quatro vezes nessa temporada, mostrou na segunda metade da temporada que seria um rival complicado para o brasileiro vencer. Apesar de acabar em terceiro no campeonato apenas a três pontos do vice-campeão Fittipaldi, não é essa a temporada que nós queremos destacar. Em 1978, Ronnie, ainda na Lotus, faz uma disputa pelo título contra seu companheiro de equipe, o ítalo americano Mario Andretti. A equipe de Colin Chapman, querendo o título, privilegia Andretti, evitando que Ronnie o ataque em corridas como Zolder, Paul Ricard e Zandvoort, já na reta final do campeonato. Apesar disso, Peterson estava próximo de Andretti e ainda no páreo pelo campeonato. Na antepenúltima corrida do campeonato, a famigerada corrida em que estreia o semáforo na F1, um acidente monumental acontece na largada. O sinal verde é acionado antes que todos os carros estivessem alinhados, logo, todos chegam a primeira curva juntos, pois quem estava atrás vinha mais embalado, com mais velocidade, o pole position Ronnie Peterson acaba se acidentando nessa confusão e morrendo. Andretti seguiria na etapa e marcaria mais um ponto e consequentemente conquistaria o título. Ao fim do ano, Andretti teria 64 pontos contra 51 de Peterson, mas podemos considerar que o sueco, se tivesse uma corrida sem o acidente fatal, teria condições de tirar essa diferença e se sagrar campeão. Como curiosidade, Peterson é o único vice-campeão póstumo da F1.
GILLES VILLENEUVE (1979) – Faltou regularidade. O canadense Gilles Villeneuve é, até hoje, um dos pilotos mais queridos da história da F1, seu talento, arrojo e velocidade, o colocam até mesmo em algumas listas de melhores pilotos da história. Apesar disso, Gilles nunca foi campeão, falecido após um grave acidente em Zolder em 1982, quando pilotava pela Ferrari, e tinha um carro capaz de levá-lo ao título, entrou nessa lista por conta de sua temporada de 1979, seu segundo ano na equipe de Maranello. Para começar, a disputa de Gilles se deu contra seu companheiro de equipe Jody Scheckter. O sistema de descartes da temporada não pode ser usado como argumento a favor de Villeneuve, pois até em números totais ele perdeu para Scheckter. Mas as quebras de seu carro sim, essa falta de regularidade não permitiram ao canadense chegar ao título, mesmo sendo considerado por muitos, superior ao piloto sul-africano. Ao fim da temporada, em pontos válidos, Scheckter fez 51 contra 47 de Villeneuve. Destaque para a corrida, que provavelmente foi o fiel da balança dessa disputa, em Monza, antepenúltima corrida, por apenas quatro décimos, Scheckter fica a frente de Villeneuve e vence, fosse ao contrário o resultado ali, mantido os resultados das últimas duas provas, o canadense teria sido o campeão. Meio segundo lhe custaram o título. 


CARLOS REUTEMANN (1981) – Sofreu uma virada histórica. O argentino Carlos Reutemann, ao contrário dos outros da lista, pode culpar mais a si mesmo do que aos outros pelos infortúnios que causaram a perda de seu título em 1981. Melhor para Nelson Piquet, que se sagraria campeão pela primeira vez naquele ano. Ainda em 1980, Reutemann teve um bom desempenho na temporada, mas uma única vitória, enquanto seu companheiro de equipe, o australiano Alan Jones obteve cinco triunfos e ficou com o título, especialmente por conta de sua arrancada fantástica nas duas últimas corridas. Em 1981, logo na primeira etapa Jones venceria com Reutemann em segundo, mas na etapa seguinte, o piloto argentino se mostraria capaz de vencer e sair da sombra de seu companheiro de equipe. Reutemann não cumpre a ordem de ceder a posição para Jones, vence a corrida, entretanto arruma um grande problema interno. Verdade seja dita, o argentino se impõem e abre folga na liderança, para desespero de Jones e de Nelson Piquet, que novamente vinha tirando o máximo possível de sua Brabham. No GP da Alemanha, quando ainda faltavam seis etapas para o término da temporada, Piquet vence, enquanto Reutemann abandonava na volta vinte e sete com problemas de motor. A larga vantagem diminuía, mas ainda era considerável. Sem pontuar em três das últimas quatro corridas, Reutemann viu campeonato se esvair por apenas um ponto, Mesmo Piquet não vencendo nenhuma dessas corridas, a sua constância lhe permitiu ganhar o campeonato. O argentino inclusive era o pole position na última etapa, mas não conseguiria nem pontuar. Carlos, nunca mais teria outra chance, e apesar de um início maravilhoso, lutar contra tudo e todos, por azar e uma pequena dose incompetência não obtém o título, título esse que seria o primeiro da argentina pós Fangio. 




FELIPE MASSA (2008) – Campeão moral. No ano de 2008 Felipe Massa, então piloto da Ferrari, fazia uma temporada irrepreensível. Primeiro, prevaleceu, graças aos seus esforços, sobre o atual campeão e companheiro de equipe, o finlandês Kimi Raikkonen. Ao longo da temporada fez um duelo ponto a ponto contra Lewis Hamilton, que na época pilotava para a Mclaren e queria se mostrar como um piloto capaz de levar o time ao título. Vale ressaltar, que na época, apesar de já ser diferenciado, Lewis ainda era uma promessa e o embate contra Massa mostrou que em certos momentos de pressão, o inglês errava. Massa fez algumas corridas brilhantes, pesou contra o brasileiro algumas trapalhadas da Ferrari em estratégia, um azar monumental em Hungaroring, já na parte final da temporada, liderava o GP, contudo quando faltavam três voltas para o fim, seu motor estourou e abandonou. Também na parte final da temporada, em Cingapura, Massa estava à frente das Mclaren, a corrida estava acirrada, então um safety car é acionado, o que não se sabia na época era que o acidente havia sido planejado para ajudar Fernando Alonso, então piloto da Renault. Nelsinho Piquet protagonizou esse triste episódio sob as ordens de Flavio Briattore, então chefe da equipe. Na confusão da corrida aos boxes por parte do pilotos, a Ferrari se atrapalha com a luz de liberação do carro e Massa saí com a mangueira agarrada, mesmo a peça se soltando, o piloto é punido e vai para o fim do grid, comprometendo a corrida. Em qualquer esporte, quando se sabe que algo foi trapaceado, o certo é anular aqueles resultados e punir os infratores, infelizmente a verdade se revelou tarde demais para que Massa se beneficiasse disso, apenas meses depois do término a temporada. Mesmo com tudo isso, Massa chegou a última corrida com chances de título, fez a pole position, liderou e cruzou a linha de chegada em primeiro, quando cruzou, os resultados em pista lhe davam o título, a equipe começava a festejar, mas vinte segundos depois, Hamilton, com pneus apropriados para a garoa que caia na pista de Imterlagos, fez a fatídica ultrapassagem em Timo Glock, já no terço final da última volta, Lewis cruza a linha de chegada na quinta colocação e conquista seu primeiro título mundial por apenas um ponto de vantagem. Massa vai ao pódio, com um misto de sensações, lágrimas nos olhos, pois sabia que fez por merecer o título, como consolo a torcida demonstra todo o seu carinho ao piloto brasileiro. Essa final de campeonato é considerada por muitos a mais dramática de todos os tempos. Nunca mais Felipe Massa pilotou de modo tão competitivo que lhe desse uma nova chance de buscar um título, mas merece o reconhecimento de ser o campeão moral daquela temporada. 



STIRLING MOSS (1955 a 1958) – O maior piloto não campeão de todos os tempos. Dentre todos os nomes da lista, ninguém merecia mais do que o inglês Stirling Moss. Quatro vezes vice-campeão da F1, correu contra alguns dos melhores pilotos de todos os tempos, e para alguns o melhor, Juan Manuel Fangio. Chegou bem próximo de Fangio em alguns momentos, já em 58, por um mísero ponto, perdeu o título para Hawthorn. Antes de ingressar na F1, o piloto inglês flertou em correr pela Mercedes, as famosas flechas de prata. Não conseguindo espaço na equipe, comprou um Maserati, usando parte dos prêmios obtidos com corridas de cavalos, que ele participava. Entrou na F1 em 1954, venceu uma corrida não oficial, mostrou ser tão rápido quanto Ascari e Fangio em determinados momentos, mesmo guiando um carro um pouco inferior e bem menos confiável. Sua ascensão se deu ao ser contratado pela Mercedes. Em 1955 correu na equipe com Fangio, Karl Kling, Piero Taruffi, Hans Hermann e André Simon, apesar da alta competitividade interna e uma rivalidade com Fangio, nunca houve relatos de inimizade e atrito entre eles. Foi o primeiro piloto inglês a vencer na F1, para delírio da torcida inglesa o feito ocorreu justamente em Aintree, na Inglaterra. Em Pescara obteve o recorde, até hoje não batido, de maior diferença entre o primeiro e segundo lugar, mais de três minutos a frente de Fangio nessa prova na Itália. Ao fim daquele ano, começava o martírio de vice-campeonatos de Moss, perdendo para Fangio, apesar das boas atuações. Outro feito daquele ano foi a sua vitória na tradicional corrida Mille Miglia, com carros esportivos, mostrando seu talento e versatilidade. Em 1956, com a saída da Mercedes, correu pela Maserati e amargou um novo vice para Fangio e a Ferrari. Em 1957 ele e Fangio correm pela Maserati na primeira corrida, mas depois ele parte para a Vanwall, infelizmente, mais uma vez, Moss perde o título para Fangio. Sua grande chance ocorre no ano de 1958, ao meio daquele ano, após um acidente, Fangio decide se retirar das pistas e se aposentar. Moss trava um duelo ferrenho contra o também inglês Mike Hawthorne. Ainda pela Vanwall, o piloto venceu quatro etapas do certame, contra apenas uma do piloto da Ferrari, mas a maior regularidade de Hawthorne prevaleceu e ele venceu. Fosse o campeonato disputado com qualquer outro sistema de pontuação da F1, Moss seria o campeão, contudo as regras da época privilegiavam muito pouco à diferença entre o vencedor e o segundo colocado (apenas 3 pontos). Apesar da soberba temporada, Moss, pela quarta vez, ficou com o vice- campeonato, mas ganhou o simbólico título de maior piloto não campeão de todos os tempos. Ainda sobre 1958 algo relevante deve ser lembrado e enaltecido, Moss ao ver o carro de Hawthorne parado na subida de um dos circuitos durante a corrida, parou e orientou o colega a deixar o carro descer para pegar no tranco. A atitude seria até passível de punição, porém Moss, com todo o cavalheirismo de um autêntico Sir, defendeu a manobra do colega, que por sinal chegou no segundo, marcando seis pontos, e posteriormente, se sagrou campeão por apenas um ponto como dito anteriormente. Em 1959, Moss ainda disputou o título, mas teve de se contentar com o terceiro lugar apenas, ficando atrás de seu companheiro da Cooper, Jack Brabham, outro piloto que se tornaria uma lenda da F1 e de Tony Brooks.



 
    Em 1962, em um teste em Goodwood, Moss sofreu um grave acidente, ficou em coma por um mês e apesar da recuperação, ficou com parte do corpo paralisado, não podendo mais correr. Em 2020, aos noventa anos, o piloto morre, mas a lenda vive, nos ensinado que nem sempre vencer é o mais importante, mas sim a competitividade, a dignidade e o amor pela velocidade. Impossível não se emocionar com essa história.

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