quinta-feira, 16 de março de 2017

TEMPLOS SAGRADOS DO AUTOMOBILISMO - ZANDVOORT


       A Holanda é conhecida pelo seu futebol belíssimo, apesar de nunca ter conquistado uma Copa do Mundo, pelo seu liberalismo em relação a sexo e drogas, mas poucos se recordam que a Holanda, esse simpático país localizado abaixo do nível do mar, possui um dos circuitos mais interessantes da história da F1: Zandvoort. Apesar da inexpressão no cenário automobilístico do país, a pequena cidade holandesa resolveu pouco antes da Segunda Guerra Mundial criar um autódromo capaz de alavancar a economia local.

    Com a eclosão da Segunda Guerra em 1939 e a dominação nazista na região, os planos de construção do autódromo pareciam cancelados, mas usando de perspicácia, o então prefeito, Van Alphen manipulou obras dos nazistas na região alegando que longas retas serviriam para o desfile das tropas alemãs na região. Com o fim da Segunda Guerra, mesmo quase falida, a Holanda estava próxima de possuir seu circuito graças aos esforços involuntários dos nazistas. Com a ajuda financeira do Auto Clube Real Inglês e um sucessor na prefeitura com vontade de continuar com o intento, o famoso circuito de Zandvoort foi finalizado e inaugurado em 1948.


Primeira corrida em Zandvoort em 1948.


       O circuito holandês se encontra dentro de um parque florestal e próximo à praia, com uma grande reta, curvas de altíssima velocidade, subidas e descidas que fazem do circuito um dos mais desafiadores e rápidos da história. A areia da praia também se torna um fator de emoção, pois torna a pista mais escorregadia e traiçoeira. Além disso tudo, o traçado é relativamente estreito, com no máximo dez metros de largura, uma característica marcante dos circuitos mais antigos. Uma curiosidade do traçado é o nome da curva mais brusca do circuito, a Tarzan. Apesar de sinuoso, Jackie Ickx em 1971 com a sua Ferrari registrou uma volta com a média horária de absurdos 192 km\h.

    A prova inaugural foi realizada sob a bandeira britânica, uma forma de compensar os investimentos ingleses na região. O traçado fez sucesso e logo foi integrado ao calendário das corridas das principais provas do mundo.

        Em 1952, a primeira corrida oficial pela Fórmula 1 foi realizada e vencida por Alberto Ascari, da Ferrari. No ano seguinte o piloto italiano repetiria o feito. De maneira quase ininterrupta o GP holandês ocorreu desde 1952 até 1985, exceções feitas aos anos de 1954,1957 e 1972.


Ascari com a sua Ferrari recebendo a bandeira quadriculada.


       O grande nome de Zandvoort de fato foi o rápido piloto Jim Clark. O escocês voador venceu quatro corridas em cinco anos no desafiador circuito. Clark foi o grande nome da F1 na década de 1960. Jack Stewart e Nikki Lauda também se destacaram no domínio do perigoso traçado, vencendo cada uma três vezes. Lauda inclusive teve o privilégio de ser o último vencedor de Zandvoort em 1985, pela Mclaren.


Jim Clark liderando em Zandvoort em 1964.


       O circuito de Zandvoort na década de 1970 necessitava de melhorias como instalação de guard rails e áreas de escape para proporcionar uma maior segurança aos pilotos. Uma empresa chamada CENAV, com o apoio da marca de cigarros Marlboro investiu pesadamente no circuito e realizou as obras necessárias, garantindo assim a permanência de Zandvoort por muito mais tempo na F1.


Senna (atrás) contra o então campeão Nikki Lauda no circuito holandês em 1985.


        Em 1985, entretanto, a empresa, que havia arrendado o circuito faliu. Sem condições de arcar com os custos que a F1 exigia e com dívidas, o circuito saiu do calendário, quase indo à falência.

      O circuito se revitalizou, passou por reformas recentes e, atualmente mesmo que diferente da concepção original, consegue abrigar provas da F3 e da DTM, principal categoria de turismo do mundo.

A DTM, principal categoria de turismo do mundo corre em Zandvoort.


     Hoje é muito complicado imaginar o retorno de Zandvoort à F1, pela questão ambiental que frequentemente é colocada em questão por causa do circuito no meio da floresta, pela falta de estrutura nos moldes exigidos pela categoria. Pelo seu custo financeiro para sediar uma etapa e por principalmente por não termos atualmente uma geração com apego sentimental a esse fantástico traçado. Apesar de esquecidos por alguns e desconhecido por muitos, Zandvoort não deixa de ser uma marca linda na história da F1.

      A única alegria real dos holandeses, no que tange a automobilismo, reside no seu outro circuito, mais moderno, o de Assen, chamado de "A Catedral" que realiza provas de Moto GP.

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