sexta-feira, 5 de março de 2021

LA SARTHE.

        Nessa edição dos Templos Sagrados do Automobilismo, vamos tratar de uma icônica pista que abriga a mais tradicional prova de Endurance do mundo: as famosas 24h de Le Mans. Pela primeira vez, a série irá abordar um circuito que não pertenceu ao calendário da F1. Nada mais justo que seja um dos principais palcos do automobilismo mundial. Localizado na França, o circuito semipermanente de La Sarthe, conta atualmente com 13.626 metros de extensão, com características bem peculiares. Uma parte permanente do circuito, pegando um pequeno trecho do traçado de Bugatti oferece trechos sinuosos, entretanto, apresentando-se com média e alta velocidade. Já a parte composta por estradas públicas, torna a pista um desafio interessante para os competidores. Além disso, andar com mais de 85% do tempo de volta com o acelerador cravado no fundo, faz com que as médias de velocidade se tornem absurdas e um espetáculo a parte para quem assiste e fazendo com que o espectador envolva-se com o espetáculo. 

Grid de largada sempre para as 24h de Le Mans.



     Em seus primórdios, La Sarthe ainda era mais longa, passando por dentro da cidade para se completar as voltas, porém o crescimento do evento fez com que houvesse a construção da parte de estádio do circuito, bem como a famosa Dunlop Brigde (Ponte Dunlop) adornando o trecho de entrada da via pública. Por mais incrível que se possa parecer, somente no ano de 1926 a famosa reta Mulsanne foi asfaltada, trazendo um pouco mais de segurança e estabilidade para os carros que trafegavam por ali. Na década seguinte, a vila de Le Mans surge, criando um ambiente mais estruturado para o evento nos anos seguintes. 
         
        
Vista da famosa Ponte Dunlop.


        Em 1955 o capítulo mais negro da famosa corrida ocorreu. O piloto Mike Hawthorn, se desviando do carro de Lance Macklin, acaba sendo atingido pelo piloto francês Pierre Levengh. O impacto do acidente matou Levengh na hora e parte dos destroços atingiu a multidão que estava próxima, matando mais de oitenta espectadores. O incêndio causado pelas peças de magnésio do carro de Levegh, causam terror até os dias de hoje, para quem assiste a cena nas imagens em preto e branco. 
      Apesar de todo o absurdo e a retirada da Mercedes, a corrida continuou, sendo vencida por Hawthorn pilotando a Jaguar. O evento cobrou o seu preço: a Mercedes, ao fim daquele ano sairia do automobilismo, só regressando em 1989 com equipe própria. A Suíça em caráter ad aeternum, proíbe corridas de carros. A repercussão do evento foi terrível para a reputação do automobilismo como um todo e mudanças, apesar de lentas, começavam a ser realizadas. O grande campeão e piloto da Mercedes, Juan Manuel Fangio que estava um pouco mais para trás na pista, presencia ao trágico evento e declara em entrevista: “O acidente em Le Mans aconteceu bem na minha frente, já estava na hora da troca dos pilotos, então Hawthorn, com o fragor da luta, entrou no box um pouco rápido e Macklin, que estava atrás, abriu. Nesse momento Levegh, afasta-se para seguir, então passou por cima da roda do carro de Macklin, e desse ato ocorreu a fatalidade, onde houve a morte de muitas pessoas”.              
O dia mais sombrio da história do automobilismo.



        Nos anos 1960 a reputação de Le Mans começa um processo de reconstrução, muito por conta do sucesso causado pela rivalidade crescente entre Ford x Ferrari e um pouco mais para o fim da década com o acréscimo da Porsche, nas disputas pela vitória na mais famosa prova do automobilismo. Nos anos de 1980, as mudanças no circuito ocorrem para abrigar a etapa francesa do Mundial de Motovelocidade. Ainda na década de 90, uma nova configuração das chicanes ao fim do circuito e um novo pit lane são instalados, porém a mudança mais significativa foi a introdução das duas chicanes na Mulsanne. 
         A título de curiosidade, o piloto dinamarquês, Tom Kristensen, venceu nove vezes a corrida, sendo seis de maneira consecutiva. Atrás dele nos números estão Jacky Ickx com seis triunfos e empatados com cinco vitórias estão os pilotos Derek Bell, Frank Biela e Emanuelle Pirro. A Porsche, com dezenove vitórias, é a montadora com mais sucesso na corrida, seguida pela Audi com treze e a Ferrari com nove. Apesar da tradição no automobilismo, nenhum piloto brasileiro conseguiu a vitória até a atualidade. A famosa corrida, no icônico traçado, é até hoje referência para que a indústria automotiva demonstre todos os seus recursos, exibindo o seu potencial tecnológico. 

Mistura de carros Protótipos e GT compõem o charme da corrida.


        A França conta com circuitos famosos como Paul Ricard, Magny Cours, Dijon-Prenois e Nogaro, porém La Sarthe é única, gigante (literalmente) por sua própria natureza. E por isso La Sarthe merece, e muito, ser chamado de Templo Sagrado do Automobilismo.

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