quinta-feira, 11 de maio de 2017

TEMPLOS SAGRADOS DO AUTOMOBILISMO - LONG BEACH


     A já consagrada série de posts sobre Templos Sagrados da Fórmula 1 regressa ao Novo Mundo, mais precisamente aos EUA para falar de circuitos que se consagraram na memória dos fãs da categoria, mas em particular esse post vai retratar de uma característica muito particular que houve nos EUA, com as corridas em circuitos de rua.
    O post vai focar no principal desses circuitos e o mais conhecido, o charmoso traçado de Long Beach, mas também fará menção aos traçados criados em Detroit e Phoenix.
   A F1  começou a correr nos EUA em 1959 no tradicional circuito de Sebring, antes disso, as provas da Indy 500 apesar de contabilizadas para a F1, não eram disputadas por pilotos europeus. Em 1976 a categoria máxima do automobilismo resolveu disputar duas etapas do campeonato em território norte americano, enquanto que a corrida de Watkins Glen era chamada de Grande Prêmio do Leste dos EUA, a corrida de Long Beach, feita na Califórnia ficou conhecida como Grande Prêmio do Oeste. Essa etapa com um traçado estreito e desafiador de 3.201 metros reunia charme e beleza por se tratar de uma região litorânea próxima a Los Angeles, o porto de Long Beach para se ter idéia é um dos mais agitados do mundo, movimentando milhões de doláres, fora a proximidade com Hollwood.

A multidão lotando o circuito.

     Em 1976 a primeira vitória nesse mítico traçado foi conquistada pelo suíço Clay Regazzoni, que pilotava uma Ferrari. No ano seguinte o ítalo americano Mario Andretti teve o privilégio de vencer no traçado a bordo de seu Lotus-Ford. É importante ressaltar que a vitória de um carro motorizado pela Ford em solo americano contribuiu e muito para o sucesso e manutenção da etapa no calendário da categoria.
     Nos anos de 1978 e 1979  a Ferrari dominou as corridas, no GP de 78 o vencedor foi o argentino Carlos Reutemann e em 79 Gilles Villeneuve.
     Em 1980 foi a vez do Brasil subir no degrau mais alto do pódio com a vitória de Nelson Piquet, pilotando a sua Brabham Ford. O piloto brasileiro porém estava muito bem acompanhado, de um lado em segundo lugar estava Riccardo Patrese com a Arrows mas do outro, no terceiro posto estava outro brasileiro, Emerson Fittipaldi. E mais ainda, Emerson pilotava o seu Copersucar, uma equipe genuinamente brasileira no pódio da categoria máxima do automobilismo, Infelizmente esse foi um dos poucos momentos de glória da equipe que um dia merecerá um post à parte, quem sabe um série sobre Equipes Esquecidas da F1?

Piquet (ao centro) comemorando com Emerson (à direita) e Patrese ( à esquerda).

      Recentemente, em 2015, Nelsinho Piquet, que viria a se tornar campeão da Fórmula-E, venceu no traçado de Long Beach, na mesma semana em que o triunfo de seu pai completava 35 anos. A comemoração na família e a felicidade de Nelson, o pai, foi emocionante.

Nelsinho Piquet se consagrando na mesma pista do que o pai.


       Em 1981, Alan Jones com a sua Williams, consegue vencer a etapa. Nos anos seguintes é a vez da Mclaren se sagrar vencedora com as vitória de Lauda e 1982 e John Watson em 1983. Em todos os anos apenas motores Ferrari e Ford venceram no traçado de Long Beach.
      Tudo ia de vento em polpa para a F1 e Long Beach, porém com o aumento expressivo de valores para sediar a etapa, a organização do GP rompe com Bernie Ecclestone, que em momento algum se esforça para chegarem a um acordo financeiro justo para ambos os lados. Apesar do sucesso da dobradinha F1 e Long Beach, a corrida no circuito de rua é cancelada.
Bernie em uma ação desesperada, um verdadeiro "tapa buraco", ajuda a realizar as corridas de 1984 e 1985 no circuito de Dallas no Texas, porém era o fim do GP Oeste dos EUA.
      O evento de 1984 em Dallas para sorte de Bernie e dos organizadores foi épico apesar do público abaixo das 90 mil pessoas, a corrida até hoje é considerada uma das queridas dos fã da velocidade de todos os tempos. A vitória ficou a cargo de Keke Rosberg, a única dele no ano de seu único título na F1, porém a construção da vitória foi um trilher emocionante, com reviravoltas espetaculares. A corrida merece um post aparte, mas para encurtar e rememorar os fãs basta dizer que foi aquela em que Mansell com problemas na caixa de marcha tem de sair de seu monoposto quando estava em quarto e empurra seu carro debaixo de um calor tremendo para completar a corrida em sexto. Mansell desmaia após o feito, o esforço foi excessivo para o Leão.

O esforço hercúleo de Mansell valeu um ponto.

       Em 1985 a corrida continuou sem o apelo necessário junto ao público e Bernie Ecclestone resolveu encerrar a parceria com Dallas e fortalecer o GP de Detroit. O grande intento de Bernie era fazer com que a F1 corresse em Nova Iorque, porém não conseguiu o apoio necessário. Se 1982 a F1 tinha pela primeira vez em um país como sede de três etapas do calendário (Long Beach, Watkins Glen e Las Vegas), o cenário muda completamente em poucos anos e 1989 a única pista a ser utilizada é a de Phoenix que duraria apenas três anos.

O cenário de Las Vegas apesar de belo não conquistou pilotos, equipes e patrocinadores.

       Detroit e Phoenix não prosperaram como deveriam, em Detroit foram sete Grande Prêmios, com direito a quatro vitórias brasileiras, três com Senna, na sequência dos anos de 1986, 87 e 88 e uma com Piquet em 84. A segunda tentativa da F1 em realizar uma prova em circuito de rua com prestígio e glamour foi em Phoenix, As três corridas realizadas foram dominadas por uma única equipe, a Mclaren, e Senna venceu duas vezes, a mais importante dessas vitórias foi a do ano de 1990, um pega eletrizante entre Senna e Alesi, então na Tyrrel, pela vitória ficou nos anais da categoria. Alesi saiu daquela prova como promessa de futuro campeão, pena que não se concretizou. Essa corrida também é considerada por muitos fãs da categoria como a melhor já disputada em solo americano, pendendo para o lado dos brasileiros é ainda mais compreensível devido ao envolvimento de Senna como protagonista, mas também em termos de disputa pela vitória, o famoso "roda a roda" , a corrida foi marcante.

        No pequeno vídeo abaixo alguns highlights da corrida com narração em inglês mas é bacana ver as imagens da corrida, da batida de Bergher, passando pela rodada de Mansell até chegar o Davi contra Golias de Senna e Alesi.




     Apesar de todas essas corridas nenhuma pista se firmou como Long Beach e a categoria, depois disso,passaria mais de uma década fora de competir em solo americano. A F1 perdeu mais do que uma pista, perdeu a sua principal referência nos EUA, permitindo o crescimento da Indy como concorrente da categoria.

      E quanto a Long Beach, como ficou o circuito sem a F1? Bem é inegável que o prestigío da pista contribuiu e muito para o crescimento da Fórmula Indy na América. A corrida foi de maneira ininterrupta disputada de 1984 até os dias de hoje, mesmo com a mudança e cissão da categoria em CART e Indy (até a recente fusão), as provas não deixaram de ser disputadas nesse tradicional palco do automobilismo, que nesse ponto, já pode alegar ter uma relevância até maior para a história da Indy do que para a F1. É muito mais fácil associar Al Unser Jr. ou Sebastian Bourdais como mestres das pista do que Nelson Piquet e Mario Andretti por exemplo. De todas as pistas da série até o momento, foi a única que se manteve intacta em prestígio. mesmo perdendo a F1.

A beleza de Long Beach cativa o público e a Indy
      Recentemente foi publicado em matéria no Uol Esporte que a prefeitura de Long Beach quer trazer a F1 para lá novamente e faz sérios planos para isso. Um estudo detalhado mostra que apesar do menor custo da Indy, o retorno financeiro também é menor, o que estimula a prefeitura a investir nessa empreitada. Com a entrada do grupo Liberty Media na F1 a possibilidade do GP voltar a F1 é real mas parece precoce dizer o quando. Mas se voltar, Long Beach agregará, e muito, para o crescimento da F1 na América.


Link da matéria do UOL sobre o possível retorno de Long Beach à F1:
https://esporte.uol.com.br/f1/ultimas-noticias/2017/04/25/long-beach-pode-deixar-a-indy-e-voltar-a-receber-etapa-da-formula-1.htm

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