segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

TEMPLOS SAGRADOS DO AUTOMOBILISMO - KYALAMI



     Os posts sobre os Templo Sagrados do Automobilismo partem da América, que possui inúmeros autódromos com histórias incríveis e cruzam o Oceano Atlântico rumo a África, mais precisamente a África do Sul, que possui um circuito apenas, mas lendário.

     A África é conhecida por ser a terra do Nelson Mandela líder do movimento contra a questão do apartheid que segregava os negros em relação aos brancos, e por ser o continente mais quente e pobre da Terra infelizmente.



    Mas a África teve corridas de F1, em um época em que todos os continentes do planeta eram contemplados com pelo menos uma etapa da categoria máxima do automobilismo. Desde idos de 1930 a F1 correu na África do Sul, mesmo antes da criação da categoria em 1950, só que as etapas eram no circuito do Príncipe George, e nessa época a África do Sul ainda era colonizada pela Inglaterra. Já em meados da década de 1960 houve um mudança no calendário com o surgimento do traçado de Kyalami.


Imagem de uma largada em Kyalami.

     Kyalami por ser mais próximo da capital Joanesburgo e por trazer mais segurança aos pilotos substituiu o circuito de Príncipe George. De 1967 até 1993 as etapas da F1 passaram por esses maravilhoso circuito.

     Kyalami passou por um triste questionamento, nem tanto por causa do circuito mas sim pela questão do apartheid. A pressão popular, a mídia, e até algumas equipes no início da década de 1980 que eram contrárias as condições que viviam os negros na África fizeram com que todas as corridas nesse período fossem ojerizadas pelos amantes da velocidades e que vivessem em constante ameaça de cancelamento ou boicote a corrida.

Imagem de um negro trabalhado arduamente durante uma corrida.


     Os custos da categoria apesar de hoje serem bilionários, na época já eram extremamente elevados, e o país que tenta exibir para o mundo a sua imagem para atrair turistas acaba tendo nesses eventos o efeito contrário, causando prejuízos inimagináveis. Fora a parte política que certamente influenciava as decisões dos líderes da África. A imagem da África ficava cada vez mais arranhada mundialmente, potencializada pela exposição da etapa.

     A F1 começou em Kyalami em 1967 como já foi dito e foi anualmente disputada até o ano de 1985 quando finalmente a pressão popular prevaleceu e as corridas foram canceladas. Depois disso a categoria só regressou para mais duas etapas em 1992 e 1993. O rei da África contando as corridas no Príncipe George foi Jim Clark com quatro triunfos, mas em Kyalami ninguém venceu mais do que Niki Lauda, três triunfos para o austríaco.

Nikki Lauda, maior vencedor de Kyalami em uma disputa contra James Hunt.



     Kyalami regressou na década de 1990, para comemorar e celebrar o fim do apartheid mas nesse momento nem o país e nem o circuito já eram capazes de acompanhar a escalada dos gastos da categoria. Em resumo, sem dinheiro sem etapa, para a F1, diga-se Bernie Ecclestone dono da categoria, ajudar na exposição da África nesse momento de reconstrução do país não era lucrativo, para ele melhor fosse com o regime de apartheid mas com dinheiro para pagar os custos das etapas.

     Alheiros a tudo isso, a Williams venceu essa duas provas, com Mansell e Prost respectivamente. Aliás a última corrida em Kyalami teve elementos únicos, apenas cinco carros cruzaram a linha de chegada e a diferença entre Prost, vencedor da etapa e Senna, segundo colocado, foi superior a um minuto. Berger na Ferrari conseguiu um precioso ponto, chegando em sexto lugar, mesmo sem completar a corrida. Os pilotos Cristian Fittipaldi e J.J. Lehto mesmo estando a duas voltas do líder conseguiram pontuar chegando em quarto e quinto respectivamente.

     A categoria nunca mais voltou ao continente africano, nunca mais se misturou com a pobreza, a alegria, a mistura de pessoas de todos os tipos. Nunca mais todos os continentes foram representados em um mesmo ano na categoria. Recentemente a categoria flertou com a possibilidade de regressar a África, mas por enquanto tudo não passa de especulação. A F1, pior do que abandonar a Kyalami, abandonou a sua humanidade, se elitizando e esquecendo-se daqueles que realmente a amam.

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